sábado, 26 de julho de 2008

Águias Douradas versus Falcões Azuis - parte III

19h54. Km 69 da A1.

... o sol começava a brilhar, deixando as nuvens para trás, quando ao olhar para o carro da frente me deparo com... uma folha espalmada contra o vidro! Ao aproximar-me li a seguinte mensagem...


"Fomos Raptadas!"

Pediam de resgate 10.000.000,02 €! Não queríamos acreditar. A M. e a R. tinham sido raptadas! Começámos a contar todas as moedas espalhadas nos nossos bolsos... mas todas somadas não chegavam aos 2 €! Não era suficiente... faltava tanto! O desespero crescia até que o rádio nos salvou. De uma forma intermitente começou-se a ouvir números, depois ao escutarmos com mais atenção percebemos que era a lotaria! Estavam a dizer a chave. Era a nossa única esperança de arranjar dinheiro para o resgate!

Mas... :´( a nossa esperança morreu quando foi dito o último algarismo! Não tinhamos a chave da lotaria dessa semana... Não podiamos fazer mais nada... Tivemos de os deixar, levá-las...; nunca mais as vimos! Será que foram levadas para as Bahamas?

Águias Douradas versus Falcões Azuis - parte II

15h00. Constância.

A aventura prometia. Ao olhar para o rio via-se um caudal jeitoso, e os monitores tentaram desviar-nos do objectivo que nos ali trazia. Descer de canoa o rio Zêzere! Porém conseguimos convencê-los de que estavamos preparados para uma aventura mais radical. Metidos dentro da carrinha, e bem apertadinhos conseguimos a custo (a carrinha não estava a conseguir sair do parque tal era o peso que transportava...) de Constância, direitos de novo ao pardão da barragem de Castelo de Bode. Devagarinho, lá conseguimos chegar, e após uma breve introdução, metemo-nos nas canoas.





Logo um pouco mais à frente eu e a S. não conseguimos resistir em ir a um mergulho! Deixámos virar a canoa e fomos obrigados a entrar na gelada água do rio Zêzere. Mas não fomos os únicos. Mais à frente deparamo-nos com o J.C. agarrado a um tronco, às voltas em como conseguir não deixar fugir a canoa e a pagaia, enquanto a R.C. era furiosamente arrastada, contra a sua vontade! Tentava a todo o custo resistir à corrente.

Após quedas, mergulhos, e um chinelo a menos, parámos numa ilha das várias presentes ao longo do rio. Já não era sem tempo. Aí pudemos repor forças, e dar um mergulho em grupo. A corrente era tal que mergulhar só agarrados uns aos outros.

O último troço da descida foi menos acentuado, e o caudal do rio diminuiu. Assim para conquistarmos Constância com o nosso brilhantismo tivemos de meter a pagaia várias vezes na água. Mas as coisas não estavam assim tão calmas. Quando menos se esperava aparecia a canoa dos piratas que encharcava os participantes, e que tentava virar as canoas dos outros! eheh

Chegados a Constância foi altura para uma despedida ao rio, e em trazer as canoas de volta ao atrelado.


Águias Douradas versus Falcões Azuis - parte I

Sexta-feira. 10h30. Lisboa. Destino, região do baixo Zêzere.

Antes de partir há que afinar travões, ajustar bancos, e "quitar" os carros. Todos sentados e bem acomodados dá-se o sinal de partida. Sim, há que ficar aqui escrito que o atraso na partida deveu-se apenas, e só, ao meu atraso!

A viagem decorre com toda a normalidade, cheia de boa animação e curiosidade pela aventura onde nos vamos meter, até que a certa altura... se ouve no rádio CB...


Aaaa-tirei o pau ao gato-to, mas o gato-to não morreu-eu-eu
Dona Xica-ca, assustou-se-se, com o berro, com o berro que o gato deu,
Miaaauu
Assentada à chaminé-né-né, veio uma pulga-ga, mordeu-lhe o pé-pé-pé
Ou ela chora, ou ela grita, ou vai-se embora, pulga maldita!


Quem tiver disposto a cantar a versão inglesa durante a próxima viagem pode encontrá-la em I Threw the Stick to the Cat!


Já em redor da barragem de Castelo de Bode vimos a encontrar algo que chamou a atenção dos futuros engenheiros.

Um pouco mais à frente, em Aldeia do Mato, parámos para apreciar a vista sobre a barragem, e bem próximos d'água aproveitámos para reabastecer energias. Não deu para nos molharmos na àgua da barragem, mas outras soluções se encontrou para aos poucos e poucos começarmos a ficar um pouco mais molhados!

domingo, 20 de julho de 2008

Dos grandes "järvit" até às "revontulet"

Estão de certo curiosos para saberem o significado destas duas palavras escritas em finlandês. A primeira é o nome de algo que caracteriza muito as paisagens deste país setentrional, os lagos. Perguntam-me porque a sei, é fácil. Basta percorrer um mapa da Finlândia para descobrir o significado desta palavra. Em todos os lagos aparece ao início o seu nome seguido de järvi. Por exemplo o Näsijärvi, ou o Oulujärvi.

Mas o encanto deste país não se resume à sua paisagem lacustre, rodeada de pinheiros nórdicos cobertos por uma espessa camada de neve. Sucessivas políticas de investimento na investigação e no ensino, e de políticas externas correctamente aplicadas, levaram a que hoje a Finlândia seja também reconhecida internacionalmente por uma indústria enérgica, inovadora, e em crescimento. Exemplo disso são os produtos Nokia.
Todo este mercado vibrante permitiu que se criassem condições básicas, e infra-estruturas para que um país 50% coberto de neve ao longo de mais de meio ano consiga ter resultados tão bons em vários índices internacionais (exemplo do OECD*).
Mas as políticas tomadas nem sempre beneficiaram o país. A nível social há ainda um longo percurso a ser feito. Num país que se debate com graves problemas de alcoolismo, e uma certa crise de identidade, resultado de políticas desastrosas em meados do século passado, o governo promove actualmente várias campanhas para os combater. Pelo que consegui pesquisar, a venda de bebidas de elevado teor alcoólico só se realiza em lojas próprias e que seguem à risca certas regras; e o estado promove a realização de vários eventos no Verão, como cinema ao ar livre, concertos, entre outros. Assim cresce um maior convívio entre as pessoas, e contraria-se a característica negativa de um povo pouco expressivo. Segundo as más línguas, só expressivo quando o teor alcoolico ultrapassa os 0,2 g/L...

Invariante a toda estas "politiquisses" está a natureza, e um fenómeno não só característico da Finlândia, mas de qualquer local próximo do pólo Norte, as muito famosas revontulet, conhecidas internacionalmente por northern lights, ou pelos lusófonos por auroras boreais.

* Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Início

"Que rapaz não terá alguma vez acarinhado na sua imaginação o sonho de grandes expedições?", perguntava Guy de Larigaudie no início do seu livro La Route aux Aventures.

Sexta-feira. 02h00. Lisboa. As ruas estão vazias. A calma apodera-se da cidade. Ao longe ressoam os motores acelerados de uma via rápida, de quem da noite tira o seu prazer. E que noite. Uma excelente noite de Verão, onde a estas altas horas apenas uma pequena brisa entra pela janela do meu quarto, mantendo-o cálido (26º C). No quarto espalham-se folhetos, guias, a mochila, a lista interminável de coisas a levar, e por fim o super útil mapa da Finlândia. Este último ocupa um lugar priveligiado, colado na parede da secretária. Aí idealizo todas as possíveis viagens dentro da Finlândia e encontro todos os recantos a não perder.

Que saudades de todos, e ainda aqui estou! Feitas as contas, daqui a algumas semanas encontrar-me-ei a uma distância de 3 387,9 km do local que me encontro hoje, à partida sozinho, mas rodeado de pessoas que tal como eu partiram atrás dos sonhos.

A todos os leitores, espero que não fiquem pedrados neste blog, e às fotos deslumbrantes que por aqui vão aparecer.